segunda-feira, dezembro 22, 2008

Pausa para balanço e leituras

A partir de hoje, o TEXTOS & THRILLERS entra em recesso de verão. Por causa da estrutura do blog, que é vinculado a um grupo de leitura, seria difícil manter o ritmo no período entre o Natal e o Carnaval. É uma época em que todo mundo aqui sai de férias, sendo que muitos viajam com a família. Ficaria complicado reunir o grupo para as discussões semanais em torno dos livros que vamos ou não comentar. Então, decidimos que, ao invés de uma pequena pausa de fim de ano (que era o nosso plano inicial), faríamos um retiro mais prolongado até o final de fevereiro. A idéia é aproveitar esses dois meses e uns quebradinhos para adiantar a leitura dos thrillers que serão divulgados no blog em 2009.

Portanto, aguardem nosso retorno, a princípio, para 2 de março de 2009. Uma segunda-feira, claro.

Até lá vocês podem dar mais uma olhada nas postagens com os livros já comentados e com as crônicas super da hora, escritas por nossos colegas do Ts&Ts, sobre alguns personagens memoráveis de grandes thrillers que a gente leu. Olha eles aí:

* ROBERT LANGDON, do thriller ANJOS E DEMÔNIOS, de Dan Brown
* VITO CORLEONE, do thriller O PODEROSO CHEFÃO, de Mario Puzo
* MARIE-CÉCILE DE l´ORADORE, do thriller LABIRINTO, de Kate Mosse
* EVELYN WAKIM, do thriller 120 HORAS, de Luis Eduardo Matta
* ALEC LEAMAS, do thriller O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO, de John Le Carré


Beijabraços da Flavia Andrade e de toda a comunidade do Ts&Ts

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Quando Alec Leamas ainda não tinha ido para o frio

por Eça de Assis, de Berlim

Meu pai era engenheiro e trabalhava para uma empreiteira americana que tinha escritório no Brasil. Nos anos 50 ele foi mandado para a Alemanha Ocidental para um treinamento, já que o país vivia uma espécie de boom imobiliário depois da Segunda Guerra. Moramos (eu, ele, minha mãe e minha irmã) primeiro em Munique e em 1961 nos mudamos para Berlim Ocidental, já com o muro erguido e todo aquele clima sombrio da Guerra Fria.

Berlim Ocidental era um vibrante enclave capitalista no meio das trevas da Alemanha comunista. Muita gente pensa que a cidade ficava situada na fronteira entre as duas Alemanhas, mas não era verdade. Berlim ficava literalmente “dentro” da Alemanha Oriental e isso fazia da cidade um lugar ainda mais tenso. Já nessa época eu adorava romances de espionagem, como os de Graham Greene e de Ian Fleming. Era um filão que estava começando a conquistar leitores pelo mundo. E em Berlim a gente respirava espionagem.

Eu devia ter uns 15 pra 16 anos quando fui à festa de aniversário de uma colega de escola, na casa dela, perto da Potsdamer Straβe. Meus pais eram muito liberais e não se incomodavam que eu chegasse tarde em casa, contanto que eu não os acordasse. Talvez por eu ser filho homem (minha irmã nunca desfrutou das mesmas regalias). Por volta da meia-noite, eu e dois dos meus amigos mais próximos, Hans e Peter, resolvemos sair para dar uma volta pela cidade. Tínhamos bebido muita cerveja e estávamos meio altos. Fomos caminhando sem rumo pela Potsdamer Straβe sem ter muita idéia de para onde estávamos indo. Passamos sobre o Landwehr Kanal e continuamos andando, sentindo que a paisagem ia ficando cada vez mais vazia, árida, sinistra mesmo, com ruínas de construções destroçadas na Segunda Guerra Mundial. Não tinha quase ninguém na rua. Além de nós, o que víamos eram veículos militares, soldados, policiais... Estávamos altos, mas não totalmente bêbados para perceber que nos aproximávamos do muro. O que só atiçou ainda mais os nossos ânimos.

Eu nunca tinha visitado a área do muro, mesmo morando em Berlim há uns meses. Aliás, para ser bem franco, eu nem sabia direito o que representava aquele muro, embora já tivesse 15 anos. Mas eu sabia que o “lado de lá” era inimigo. Diminuímos o passo por uma rua mais estreita e avistamos, lá no final, luzes brancas de holofotes iluminando um paredão que só podia ser o dito cujo. Vimos sacos de areia empilhados, jipes, blindados e alguns carros civis parados e eles eram cada vez mais numerosos à medida que nos aproximávamos. Andamos um pouco mais e vimos uma placa que dizia “YOU ARE LEAVING THE AMERICAN SECTOR”. A frase era repetida abaixo em russo, francês e alemão. Concluímos que não estávamos apenas perto do muro, mas num dos pontos de comunicação entre as duas metades da cidade dividida. O lugar que ficou conhecido como Checkpoint Charlie.

Percebemos que alguns soldados nos olhavam com cara de poucos amigos. Foi quando um Opel freou atrás de nós, quase nos atropelando, enquanto atravessávamos a rua já tomando o caminho de volta. Retornamos à calçada, enquanto o carro estacionava e um homem de meia-idade, vestindo uma capa comprida e com um chapéu na cabeça, saltou desembestado. Ele veio na nossa direção, gritando em alemão:

— O que vocês pensam que estão fazendo?! Quem são vocês?!

Pálidos de susto, não conseguimos falar nada, apenas gaguejamos um princípio de resposta. O homem estreitou os olhos para nos examinar.

— Control? — ele perguntou, apenas.

Olhamos de volta para a placa do posto militar. Se ali era um dos locais de passagem entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental, é claro que devia ser também um posto de controle. O homem só podia estar se referindo a isso. Vai ver ele queria ir pra lá e estava meio perdido. Eu tomei a frente e respondi, fazendo um gesto com a cabeça em direção à placa:

— Sim.

O homem relaxou, mas não muito. Ele estendeu a mão para nos cumprimentar:

— Sou Alec Leamas. Vocês foram pontuais.

Eu e meus amigos nos olhamos, sem entender patavina.

— Paul vai atravessar o muro a qualquer momento. O relatório está quase pronto. Estou apenas esperando as informações que ele ficou de nos trazer. Quando vocês chegarem em Londres, amanhã, vão encontrar um assessor de Control no aeroporto. Vocês devem entregar o relatório para ele.

Foi aí que a gente entendeu que Alec Leamas era um espião. E que Control devia ser o codinome do chefe dele.

— Você é inglês? — eu perguntei, falando em inglês.

— Claro. Que pergunta mais idiota... — ele respondeu mal-humorado.

Caminhamos pela Zimmer Straβe até uma cabine. Leamas nos apresentou a um militar fardado, que saiu de dentro dela:

— Esses são os nossos emissários, major. Control tinha mesmo avisado que, desta vez, mandaria pessoas “insuspeitas”. Garotos, esse é o Major Stuart Brown, do exército americano.

O homem sorriu para nós e disse.

— Nosso homem em Berlim Oriental já deve estar se preparando para atravessar o muro. Vamos logo — ele apontou para um prédio a uns duzentos metros do posto de controle. O prédio ficava recuado na calçada, estrategicamente afastado das sentinelas comunistas.

Fomos subindo os andares por uma escada escura. Leamas falou:

— A missão é arriscada. Paul nos traz informações sobre Mundt. É de surpreender que tenha saído vivo.

— Ainda não sabemos se ele saiu vivo, Sr. Leamas. Só saberemos depois que ele passar para o lado de cá. Se ele passar.

Chegamos a uma sala no último andar, de onde se tinha uma vista privilegiada do muro e do lado oriental. A sala funcionava como um posto avançado de operações da CIA e do serviço secreto inglês. O major nos ofereceu café. Leamas apanhou a primeira xícara e depois eu e meus amigos nos servimos. Além de suavizar o frio, o café funcionou para quebrar o efeito de toda a cerveja que a gente tinha bebido. Leamas foi até uma janela. O major lhe entregou um binóculo.

— Um homem numa bicicleta — Leamas disse. — Parou no primeiro controle e foi levado à barraca dos VoPos para verificação de documentos.

— É Paul? — o major perguntou.

­— Sim — Leamas respondeu sem desgrudar do binóculo.

— Vou descer. Vão precisar de mim lá quando ele passar. Eu o trarei aqui.

Leamas afastou-se da janela e perguntou ao major:

— Vocês têm como protegê-lo quando estiver atravessando a fronteira?

— Só se os VoPos atirarem contra o nosso setor. Mas eles não vão fazer isso.

Leamas murmurou alguma coisa mal-humorada em resposta, que não deu para ouvir. O major saiu da sala e ele voltou a se concentrar no binóculo.

Terminamos nosso café e deixamos as xícaras de lado. Tentando parecer íntimo da situação, perguntei:

— Como Paul está se saindo?

— Acabou de ter os documentos verificados. Está, agora, no segundo controle.

— É um bom sinal?

— Não sei. Ele está demorando mais do que o habitual.

Paul passava agora pelo controle aduaneiro. Leamas torcia para que as informações que ele trazia estivessem muito bem escondidas. Ou ocultas nas páginas de um livro ou algo assim. Ele não sabia o método que Paul usaria desta vez.

A bicicleta foi liberada e logo a seguir foi parada por dois soldados comunistas, que fizeram algumas perguntas rápidas. Leamas suava frio. Faltava pouco.

— Acho que conseguimos... — Leamas falou animado. Mas a animação não durou. Empurrando a bicicleta, Paul passou. Estava a poucos passos da linha de demarcação quando ele foi iluminado pelo clarão ofuscante dos holofotes. Uma sirene ressoou, estridente. Um soldado atirou. Paul caiu. Ele ainda estava oficialmente no lado oriental. Leamas se desesperou:

— Valha-me Deus!!!

Leamas largou o binóculo e saiu ventando da sala. Fomos para a janela. Em um minuto ele estava se juntando ao major, na rua. Dali a gente via Berlim Oriental mergulhada na escuridão. Estávamos numa terra de ninguém, cortada por aquela coisa hedionda que era o muro. O informante de Leamas foi trazido para o lado ocidental. Leamas, a princípio, tentou reanimá-lo, mas vendo que não havia mais jeito, tentou localizar as tais informações que ele trazia. Não encontrou nada. Na certa, os homens de Mundt já tinham se apoderado de tudo, sem que o próprio Paul se desse conta.

Leamas estava fora de si e gritava com todo mundo à volta dele. Percebemos que ia sobrar pra gente. Resolvemos cair fora. Descemos correndo as escadas e voltamos ao frio da rua. Uma neblina rala começava a cobrir a madrugada. Despertos graças ao café, tomamos o caminho de volta. Sentimos um alívio à medida que a vibrante Berlim Ocidental foi ganhando forma novamente, com seus letreiros, seu barulho de automóveis e sua modernidade capitalista que contrastava com o panorama desolador do entorno do muro. Quando passamos pelo Landwehr Kanal, eu jurei que tão cedo não daria as caras na zona do muro. E cumpri o juramento. Só agora, depois de tantos anos do retorno ao Brasil, é que voltei a Berlim, a uma Berlim reunificada. Mas ficou na memória essa madrugada em que conhecemos Alec Leamas, antes que o famoso espião entrasse no frio para sair mais tarde nas páginas de John Le Carré.

Nota de Flavia Andrade: Nosso colega "Eça de Assis" se inspirou no começo de O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO,
de John Le Carré, para descrever este encontro com Alec Leamas.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Quem tem medo de Evelyn Wakim?

por Martina Memory, de Beirute

Em 2008 o carnaval caiu muito cedo, no iniciozinho de fevereiro. Por causa disso o trabalho na minha empresa ficou acelerado além da conta em janeiro, que é o mês em que sempre tirei minhas férias. Sou divorciada, sem filhos, e costumo aproveitar as férias pra viajar. Para mim é uma terapia, a melhor que tem. Como meu chefe pediu que eu ficasse na empresa em janeiro, acabei transferindo minhas férias para março, já que fevereiro estava muito em cima, e programei uma ida à Itália. Quatro dias em Milão, quatro em Roma, e os outros sete, como já é costume meu, seriam decididos por lá mesmo, meio que no improviso. Talvez Florença, talvez Veneza... Na hora eu veria o que me desse melhor na telha.

Enquanto eu arrumava minha bagagem, percebi que em março de 2008 faria dez anos da época em que é ambientado um dos meus thrillers preferidos, 120 horas, de Luis Eduardo Matta, que se passa quase todo em março de 1998. Como o livro tem cenas em Roma, não pensei duas vezes e coloquei-o na minha bolsa. Durante o vôo Brasil-Itália, o reli todinho. 120 horas é um romance maravilhoso, com personagens antológicos. Além da trama de mistério e suspense com um tempero dramático, os personagens me marcaram demais. Quando cheguei a Roma, depois de passar por Milão, saí com o livro embaixo do braço percorrendo todos os lugares citados na história: a Via Veneto, a Via del Corso, a Via Condotti, a Piazza Esedra, o bairro com vista para o Coliseu onde Aurélio Amorim tinha alugado um apartamento... Fiquei emocionada e foi aí que eu tive uma idéia meio doida. Meio, não: totalmente doida. Já que eu tinha sete dias restantes, porque não viajar para o Oriente Médio, onde a ação principal do livro se concentra?

O Líbano ficava mais ou menos perto. Poucas horas de avião, calculei. No meu hotel me recomendaram uma boa agência de turismo próxima. Fui até lá e acertei tudo em menos de uma hora: um vôo de ida e volta para o Líbano e reserva num hotel quatro estrelas. Na volta, eu faria uma conexão na Itália pra tomar o avião que me traria para o Brasil. Excitadíssima, corri para o hotel para arrumar minha mala. Na tarde do dia seguinte eu aterrissava em Beirute, capital do Líbano.

Esqueçam as bombas, esqueçam os homens barbudos com turbante e metralhadoras, esqueçam todas as notícias de guerra que chegam até a gente pelos jornais. Beirute é uma metrópole linda, moderna, chiquérrima, cheia de hotéis charmosos, lojas finas de grifes européias de renome, cafés em estilo francês e uma vida noturna agitadíssima que me lembrou Madrid. As pessoas são bonitas e se vestem com elegância, ainda mais com o gostoso friozinho europeu que estava fazendo. O trânsito denso, por outro lado, é bem paulistano. Beirute pode se parecer com muita coisa, mas não com uma cidade do mundo árabe. Sempre com o 120 horas na mão, eu passei quatro dias zanzando pelas ruas, procurando ao vivo os lugares onde se desenrolavam as ações no livro, que além de thriller se revelou um guia pra lá de competente. Caminhei pelo passeio à beira do Mediterrâneo chamado de Corniche, onde ficava o apartamento da estilista Randa Nohra (o prédio estava lá). Na Rua Verdun localizei o lugar onde ficava a butique de Randa e imaginei que ela tivesse sido colocada abaixo para dar lugar a um supermoderno edifício comercial (ele parecia recente, o que confirmava que ainda não existia em 1998). Na Rua Sursock reconheci um casarão que correspondia às descrições da residência de Gabriel Karam. Na Rua Hamra vi o edifício de fachada de vidro onde funcionava o escritório do primo Émile, que foi incendiado na noite do desfile da grife de Randa Nohra. Tudo parecia tão real... Se os cenários existiam, será que a toda a ação do livro também tinha acontecido de verdade?

Eu fiquei me perguntando isso, quando criei coragem pra chegar ao ponto máximo da visita: o edifício que abrigava a sede da AMI Lloyd, a mega-empresa de navegação da poderosa e impiedosa Evelyn Wakim Pietrangeli.

O prédio, ainda segundo o livro, ficava perto de onde eu estava. Andei poucas quadras. Logo o reconheci. Seu nome era (é) Liberty Tower e é um arranha-céu listrado de branco e preto com não sei quantos andares. Na entrada, um chafariz. Entrei no saguão da recepção e, casualmente, informei, em inglês, que precisava ir ao escritório da AMI Lloyd. Coloquei o meu exemplar de 120 horas sobre o balcão. Minha intenção era fazer uma brincadeira para falar do livro, mas o rapaz que me atendeu respondeu com naturalidade:

— Nono andar. Seus documentos, por favor?

Me lembrei que no livro, o escritório ficava no nono andar. Será que o rapaz estava falando sério ou estava tirando uma com a minha cara de gringa? Quando eu olhei para o painel, perto dos elevadores, vi que ele falava sério: lá estava, ocupando a coluna do nono andar, o nome da AMI Lloyd.

Passei meu passaporte a ele e ele perguntou, segurando o telefone:

— A quem devo anunciá-la, senhora?

Engoli em seco, mas fui em frente:

— À Dona Evelyn Wakim.

O recepcionista espiou o relógio.

— São mais de cinco da tarde. A essa hora Dona Evelyn já deve estar saindo. Mas vou tentar assim mesmo.

Meu Deus do céu, o que estava acontecendo? Então Evelyn Wakim, minha “ídola” na ficção, existia? Se ela fosse como no livro, não ia gostar da minha visita. Mas antes que eu pudesse pensar em dar no pé, a porta de um dos elevadores se abriu e uma mulher elegante saiu de dentro dele. Ela tinha a pele branca, o cabelo muito escuro e bem arrumado e vestia um terninho com um mantô por cima dos ombros. Carregava uma bolsa e uma pasta. Estava de óculos escuros. Olhei para ela e concluí que não podia ser Evelyn Wakim. Aquela era uma mulher mais idosa, que devia ter bem mais de 70 anos, quase 80. E, em 120 horas, Evelyn tinha uns 67 ou 68. Se bem que o livro se passava em 1998. Dez anos atrás. Ou seja, se viva, Evelyn Wakim teria, em 2008, 77 ou 78 anos.

A senhora foi se afastando devagar em direção à saída. Sua postura ereta e altiva era a de uma pessoa que se achava muito superior e muito importante.

O recepcionista falou, apontando para ela:

— Aquela é Evelyn Wakim. Eu disse que ela já devia estar de saída.

Não sei o que aconteceu, mas Evelyn parou de repente. Ela deve ter ouvido o recepcionista falar seu nome — e, com certeza, não ficou muito contente. Ela virou-se para nós e retirou seus óculos de sol, revelando os olhos negros, enormes, firmes e aterradores que Luiz Eduardo Matta descreveu tão bem no livro. Por alguns minutos, ficou nos olhando com aquela cara meio furiosa, meio indignada de “quem essa gente pensa que é para ousar pronunciar o meu nome?”. Com o rosto contraído, Evelyn me olhou de cima abaixo e, pela cara de repulsa que fez, pareceu não ter gostado nem um pouquinho do que viu. Ela recolocou os óculos de sol e saiu pra rua, onde um Mercedes preto já a aguardava com a porta de trás aberta por um chofer uniformizado.

O recepcionista, parecendo apavorado, correu até mim e falou, tropeçando nas palavras:

— Minha senhora, a senhora tem que sair do Líbano depressa. Ouviu bem? Depressa!!!!

— Por quê?

— Dona Evelyn é uma mulher poderosa e não gostou da sua presença aqui. Eu percebi pela maneira como ela olhou para a senhora. Corra para o aeroporto, antes que ela coloque toda a polícia de Beirute para investigar quem é a senhora e o que veio fazer no Líbano.

— Ela é tão poderosa assim?

— Muito mais do que a senhora pensa. Não perca tempo. Fuja. Eu prometo que vou manter sigilo sobre a sua identidade — ele me devolveu o passaporte e eu o guardei na bolsa.

Fiz o que ele me disse. Arrumei minha mala voando, encerrei minha estadia no hotel e, antes das oito da noite eu já estava no aeroporto. Consegui lugar num vôo que sairia pra Milão dali a três horas. O tempo de espera na sala de embarque do aeroporto foi angustiante. Eu achava que, a qualquer momento, policiais apareceriam para me levar à presença da poderosa Dona Evelyn. Mas nada aconteceu, felizmente. Na hora marcada, entrei no avião e, quando ele levantou vôo, respirei aliviada.

Foi só aí que eu me lembrei que, na pressa de fugir, tinha esquecido meu exemplar de 120 horas na portaria do Liberty Tower. Será que alguém ali teria curiosidade, algum dia, de abri-lo? E se Evelyn Wakim descobrisse que toda a história sórdida em que se envolveu há dez anos atrás estava detalhada naquele thriller brasileiro? Como ela reagiria? Será que, sem querer, coloquei o autor do livro em perigo?

Enquanto o avião rumava de volta à Itália, fiquei me perguntando quem poderia ter medo de Evelyn Wakim. Concluí que eu tenho. Mas ela continua sendo minha “ídola” assim mesmo.

Nota de Flavia Andrade: Nossa colega "Martina Memory" se inspirou no livro 120 HORAS
, de Luis Eduardo Matta, para narrar este encontro com Evelyn Wakim.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

A ressurreição de Madame de l´Oradore

por W@L, de Chartres

Aprendi francês na escola quando era garota. Com a falta de prática, porém, já que ninguém na minha família domina o idioma, resolvi me inscrever num intensivão de seis meses, muito recomendado por pessoas versadas na língua. Mas não adiantou muito. Foi então que minha professora, uma senhora francesa há muitos anos vivendo no Brasil, me recomendou passar uma temporada na França, imersa em aulas e falando francês o tempo todo. Ela me garantiu que, com o francês que eu falava, dois meses bastavam. Juntei algum dinheiro, me inscrevi num dos programas que oferecem cursos no exterior. E lá fui eu. Era junho, fim da primavera, uma época agradabilíssima na Europa. Meu destino: Paris, obviamente.

Minha professora estava certa e, em dois meses eu falava francês tão bem quanto qualquer jornalista da Magazine Littéraire. Exagero meu, claro. Mas meu francês ficou tão bom e eu me apaixonei tanto por aquele país, que decidi esticar a minha estadia por mais um mês. Depois de um agosto sufocante em Paris (o verão francês é brabeira), em setembro resolvi sair da cidade e percorrer aquela parte norte do país. Fui a Dijon, a Orléans, à Bretanha e, enfim, a Chartres, que eu ouvi falar pela primeira vez lendo o livro Labirinto, de Kate Mosse.

Assim que cheguei à cidade, fui direto ao seu monumento principal: a catedral de Notre Dame de Chartres, construída na Idade Média em estilo gótico. Em seu interior, gravado no piso no meio da nave, fica o famoso labirinto que dá nome ao best-seller de Kate Mosse. Havia muita gente ali naquela hora, entre turistas e moradores da cidade. Mas eu percebi que o motivo não era só a visitação à catedral. Havia algo a mais. E só descobri quando, cerca de uma hora depois, eu saí do templo. Na chegada a Chartres, eu estava tão ansiosa para conhecer a catedral que nem tinha percebido a multidão aglomerada na praça localizada em frente à entrada.

O que estaria acontecendo? – pensei eu. Alguma celebridade internacional estava visitando a cidade? O presidente da França tinha vindo rezar na catedral? Algum crime tinha acontecido e todo mundo tinha corrido para ali para ver o que era?

Não, nada disso. Quando me aproximei vi que se tratava somente de um lançamento de livro. Eu, como boa brasileira que sou, me esqueço que em países civilizados como a França, os livros têm lugar de destaque na sociedade. De qualquer maneira, o escritor devia ser famoso. Cheguei mais perto e conferi o cartaz que anunciava o evento: o livro que estava sendo lançado se chamava Le Moyen Âge et moi (A Idade Média e eu). Título curioso. Provavelmente era um romance histórico. Quando apanhei um exemplar numa pilha para folhear, vi que era uma autobiografia. Seu autor era Audric Baillard.

Peraí: “Audric Baillard”. Eu conhecia esse nome. Onde eu tinha ouvido ou lido esse nome?

Olhei para a Catedral e, em seguida, para a mesa onde o escritor estava autografando. Ele era velho. Bem velho. A pele, enrugada, lembrava um pergaminho que tinha sido passado a ferro. Ao lado dele, estava uma mulher alta, elegante, de pernas compridas, cuja idade devia estar situada em algum lugar entre os quarenta e os cinqüenta anos. Ela usava um terninho claro, jóias lindas e o cabelo escuro estava muito bem arrumado, combinando com a pele clara. Percebia-se que era uma mulher rica, importante e de classe. Comprei um exemplar e tomei meu lugar na fila. Uns vinte minutos depois eu estava cara a cara com o escritor.

A mulher ao lado dele percebia que eu a olhava fixamente. Parecendo contariada, ela me perguntou sem cerimônia:

Excusez-moi, madame. Est-ce que nous nous connaissons?

Baillard olhou intrigado para a mulher e depois para mim. Eu não tive reação.

— Você a conhece, Sajhë? — a mulher perguntou ao escritor, ainda em francês.

— Não, madame de l´Oradore — ao completar a resposta, o ele olhou bem firme nos meus olhos. — Deve ser uma turista.

“Sajhë”? “Madame de l´Oradore”? Será que eu estava sonhando?

— A senhora é Marie-Cécile de l´Oradore? — perguntei de repente, sem pensar nas conseqüências daquele ato impensado.

A mulher me encarou com uma fúria tão grande que cheguei a pensar que atiraria em mim se tivesse uma arma.

— Como sabe o meu nome? Quem é você?

O escritor comentou, enquanto sorria amigavelmente para mim.

— Talvez ela tenha lido o livro...

— Que livro? O romance daquela inglesa que esteve aqui? Aquela que mora em Carcassone? Você está falando daquele livro ridículo, cheio de inverdades sobre nós? O livro daquela Kate Mosse?

Baillard apenas concordou com a cabeça. Marie-Cécile me puxou para o canto, me tirando da fila e me perguntou:

— O que ela contou a você sobre nós?

— Ela quem?

— A Kate Mosse. Foi ela que te mandou aqui? Ela vai escrever outro livro e mandou uma espiã para não dar na vista?

— Eu não conheço a escritora — respondi. — Só li o livro e... Bem, sinceramente eu não imaginava que vocês existiam de verdade. Quer dizer que aquela história do Graal...

— É mentira. Uma obra de ficção!

— Mas a senhora chamou Audric Baillard de Sajhë. Exatamente como está no livro da Kate Mosse. E o livro que Baillard está lançando se chama A Idade Média e eu. E é uma autobiografia.

— Não é. “Uma autobiografia” é o subtítulo. O livro é um romance.

— Então, por que a senhora o chama de Sajhë em vez de Audric?

— Eu o chamo como eu quiser.

— Vocês são idênticos aos personagens do livro. Até a pele de Baillard. Ele parece ter mesmo não sei quantos séculos de idade.

— No livro eu morri, não morri? Dentro daquela caverna. E Audric também morreu. O único caso de ressurreição que eu conheço aconteceu em Jerusalém há uns dois mil anos. Se o que está no livro fosse verdade, você acha que eu estaria viva agora, sua idiota?

Marie-Cécile tinha razão. Eu nada disse.

— Vou te dar um conselho: vá embora de Chartres e não conte para ninguém que nos encontrou aqui. É para o seu próprio bem.

Sajhë (ou Baillard) ficou nos olhando, ignorando totalmente a fila que se formara diante dele. Eu estava muito assustada e me afastei, mas não totalmente. Só o suficiente para ficar longe do campo de visão de Marie-Cécile e Baillard. Queria observá-los melhor, observá-los um pouco mais. Aos poucos fui me aproximando sem que eles percebessem e foi quando ouvi Marie-Cécile falar:

— Mais uma intrometida. Por causa desse livro minha vida está virando um calvário. Acho que vou me mudar de Chartres.

— Pelo menos ela não descobriu nada sobre o segredo do Graal — Baillard respondeu. — Afinal, se não fossem eles não estaríamos vivos agora. Nós dois teríamos morrido naquela confusão no Pic de Soularac. Eu, graças ao tiro que você me deu.

— Você não era o meu alvo. E eu sabia que você não morreria por causa de um tiro. Assim como o desabamento só me causou arranhões e uma tipóia no braço esquerdo por dois meses.

— Foi tudo uma boa encenação — Baillard riu. — Mas tome cuidado para não me chamar mais de Sajhë. As pessoas podem suspeitar. Labirinto foi um best-seller mundial.

Pas a pas se va luènh — Marie-Cécile disse, meio debochada. — Continue autografando, Audric. Senão mais gente é capaz de desconfiar. Tenho quase certeza que quem contou a nossa história a Kate Mosse foi aquela inglesinha, a Alice Tanner. Um dia eu ainda vou acertar as contas com ela.

Nota de Flavia Andrade: Nossa colega "W@L" se inspirou nos capítulos finais de
LABIRINTO, de Kate Mosse, para descrever este encontro com Audric Baillard (Sajhë) e Marie-Cécile de l´Oradore, inimigos na ficção.

segunda-feira, novembro 24, 2008

A tarde em que Don Corleone foi comprar frutas

por Paty Faria, de Nova York

Meu sogro faleceu há dois anos. Foi uma época triste. Apesar da idade (80 anos e uns quebradinhos), ele era um homem cheio de vitalidade, alegre, inteligente e com muita coisa ainda para ensinar aos mais jovens. Sua vida, movimentada, rica, cheia de altos e baixos, dava um livro. E pode ser que tenha dado mesmo. Não um livro completo, mas pelo menos a passagem de um.

Foi o que eu e meu marido descobrimos lendo um diário que ele manteve durante certo período da vida e que encontramos no seu apartamento, enquanto embalávamos roupas e outros pertences que pretendíamos doar para instituições de caridade. O diário continha anotações da época em que ele resolveu se mudar dos Estados Unidos para o Brasil. E por causa da violência, vejam só. Ele dizia que a Nova York dos anos 40 era uma cidade dominada por gângsteres e que no Brasil a vida era muito mais calma. Ele viveu o bastante para ver a situação se inverter.

Já deu para perceber que meu sogro era americano. Filho de italianos que tinham emigrado para os Estados Unidos. Ele nasceu em Nova York e logo depois o pai dele morreu. Ele e a mãe passaram, então, a viver com dificuldade. Quando meu sogro fez doze anos foi forçado a começar a trabalhar. Primeiro, numa carpintaria, cujo dono perdeu os dois filhos num acidente e, deprimido, se matou, ocasionando o fechamento do negócio. Depois, trabalhou em duas cantinas, mas não se adaptou ao trabalho. Em meados dos anos 40, ainda jovem, ele montou uma barraca para vender frutas numa esquina de Little Italy, na região sul de Manhattan, um reduto de italianos. Era um negócio lucrativo que dava a ele o suficiente para viver com a mãe, que trabalhava numa fábrica. Mas ele não gostava de ficar o dia inteiro na rua, principalmente no inverno. E ainda tinha que aturar ladrões, mafiosos e malandros que circulavam pelas redondezas.

O episódio que, segundo estava anotado no diário, foi o estopim para eles decidirem sair dos Estados Unidos aconteceu num fim de tarde de inverno de 1945. Meu sogro estava com a barraca de frutas armada quando um distinto senhor, que tinha se tornado seu freguês, saiu do prédio onde funcionava a sede da companhia de azeites Genco Pura. A porta traseira de um Buick estava aberta à espera dele, mas o homem, em vez de entrar logo no carro, resolveu comprar umas frutas antes. Era um homem rico, mas de gestos simples, e parecia generoso. Estava bem vestido, com paletó e sobretudo. Ele escolheu as frutas e meu sogro as colocou num saco de papel. O homem pagou e, quando se virou para voltar para o carro, dois homens de sobretudo e chapéus pretos apareceram na esquina. Os chapéus estavam puxados para baixo, escondendo os rostos.

O homem deixou cair o saco com as frutas na calçada e saiu correndo em direção ao Buick, enquanto gritava:

Fredo! Fredo!

E aí vieram os tiros. Primeiro um. Depois mais dois, seguidos por outros dois. Meu sogro se escondeu atrás da barraca para se proteger. Outras pessoas que passavam pelo local também haviam se encolhido nos cantos ou se lançado ao chão, assustadas. As frutas que tinham acabado de ser vendidas rolaram pela calçada. Quando cessaram os disparos, meu sogro se levantou para ver o que tinha acontecido e viu o velho caído, ensangüentado. O rapaz a quem ele chamou, o “Fredo”, veio em seu socorro, enquanto os pistoleiros desapareciam pela esquina. Uma multidão se formou em torno do homem. Logo chegaram a polícia, uma ambulância e a imprensa. Foi, então, que meu sogro descobriu que o seu cliente na barraca se chamava Vito Corleone, que o “Fredo” era o apelido de um dos seus filhos (ele se chamava Frederico) e que o crime era um acerto de contas entre mafiosos.

Meu sogro ainda ficou tempo suficiente em Nova York para saber que Don Vito Corleone sobrevivera, mas que outro de seus filhos, Santino, ou “Sonny” Corleone, morrera, também por obra da Máfia. Foi a gota d’água. Não dava mais para morar num país perigoso como os Estados Unidos. Com um primo vivendo em São Paulo, meu sogro se animou a tentar a sorte nas terras tupiniquins. Meses mais tarde, ele e a mãe, tomaram um “Ita” no Norte (e põe Norte nisso) e vieram para o Brasil, fugindo do inverno rigoroso e da violência. Aqui, ele aprendeu o português e foi trabalhar num armazém. Em dois anos era sócio do estabelecimento e em dez anos, tinha virado dono de uma meia dúzia deles. Nos anos 70, passando por uma livraria, viu um exemplar (em inglês) do livro The Godfather. Comprou-o e levou um susto ao ler no segundo capítulo uma cena idêntica à que presenciara em Nova York.

Durante mais de 30 anos meu sogro se perguntou se Mario Puzo era um dos transeuntes que passavam por Little Italy na hora dos tiros. Morreu sem saber a resposta.

Nota de Flavia Andrade: Nossa colega "Paty Faria" se baseou numa cena do livro
O PODEROSO CHEFÃO, de Mario Puzo, para narrar essa versão do atentado a Don Vito Corleone.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Nunca fui aluna de Robert Langdon

por Beta Langdon, de Roma

Eu e meu marido fomos comemorar nossos dez anos de casamento na Áustria. Dois dias depois de chegarmos a Viena, soubemos que o Papa João Paulo II tinha morrido. Estávamos no começo de abril de 2005. Fazia muito frio em Viena, mas tínhamos ido mesmo (entre outras coisas) por causa do frio e para talvez, quem sabe, dar uma fugidinha para esquiar em Arlberg, mas o inverno já tinha acabado e eu não sabia se ainda havia neve suficiente por lá. Ficamos mais três dias em Viena e em vez de continuarmos nossa viagem para Innsbruck e Salzburgo como tínhamos planejado, pegamos um avião para Roma. Eu adorava aquele papa e fiquei muito triste com a morte dele. Meu marido, muito católico, também fez questão de se despedir dele. E lá fomos nós.

Uma vez em Roma, largamos tudo no hotel e fomos direto para o Vaticano. Era muito cedo e uma fila imensa saía de dentro da Basílica de São Pedro, continuava pela Via della Conciliazione (a principal rua de acesso à Praça São Pedro) até fora dos muros do Vaticano. Equipes de TV do mundo todo estavam amontoadas na avenida que margeia o rio Tibre e havia muito policiamento. Ficamos horas em pé, andando a passinhos de tartaruga até conseguirmos entrar na basílica e dar adeus ao querido Sumo Pontífice. Chorei muito ao ver o corpo dele, todo paramentado, ali exposto. Saímos de lá e para me distrair, meu marido resolveu me levar para um passeio por Roma, que é uma cidade linda e que eu não conhecia. Estava cansada de tanto ficar em pé, mas mesmo assim, topei. Fomos a várias igrejas, visitamos o Coliseu e as ruínas da Roma imperial e demos uma passeada pelas ruas de comércio chique, até que eu, exausta, pedi para sentarmos num dos restaurantes com mesinhas ao ar-livre na praça em frente ao Panteão. O Panteão é um antigo edifício greco-romano, com pilares suntuosos na fachada e que foi convertido numa igreja católica.

Tinha bastante gente no local. Eu estava acabando de comer uma massa e tomar um tinto delicioso quando percebi um movimento esquisito de policiais. Eram muitos. Todos se comunicavam por walkie-talkies, meio nervosos e alguns se dispersaram para cercar o Panteão. Eu e meu marido ficamos com medo. Ameaça de bomba? Tudo era possível depois do 11 de setembro e ainda mais em pleno velório do papa e pedimos a conta rápido. Foi aí que eu percebi em meio aos policiais, um casal interessante: um homem de meia-idade vestindo um paletó de tweed e uma mulher, mais moça que ele com um shortinho branco, curto. Estava frio, como ela conseguia só usar aquilo? Mas tudo bem, vai ver ela tinha vindo de um lugar mais frio ainda. De Moscou ou da Finlândia, talvez. Se bem que ela estava bronzeada. Bom, isso não vem ao caso.

O que vem ao caso é que, depois de pagarmos a conta, meu marido, em vez de sair correndo dali para o hotel, resolveu ir ver o que estava se passando. Fui atrás dele e, quando chegamos perto, consegui ouvir o policial que aparentava ser o chefe da operação falar para o homem de paletó:

Mister Langdon, this had better not blow up in our faces.

Langdon? Como assim “Langdon”? Eu tinha ouvido “Langdon”?

Olhei para o homem de paletó: meia-idade, biótipo de inglês ou americano branco. Não era italiano, ainda mais porque o policial tinha falado com ele em inglês. Ele sorriu meio sem-graça e o policial falou no walkie-talkie, em italiano:

Sono le diciannove, quarantasei minuti e trenta secondi... Siete tutti ai vostri posti?

Foi quando criei coragem e me aproximei do homem de paletó, que suava muito apesar do frio. Aproveitando que o policial estava distraído dando ordens pelo walkie-talkie, perguntei, no meu inglês bipolar:

— Você é o professor Robert Langdon? O famoso professor Robert Langdon?

O homem olhou para mim, meio confuso e deu um sorriso simpático:

— Não sou tão famoso.

— Você não é professor de Simbologia Religiosa na Universidade de Harvard?

Ele me examinou com os olhos, tentando me reconhecer.

— Você foi minha aluna? Engraçado, não me lembro da sua cara...

Não deu para continuar a conversa, porque a moça de short, que descobri que se chamava Vittoria, começou a gritar em italiano com o policial:

Comandante, non manda nessuno dentro al Pantheon?

Langdon desviou a atenção de mim. Uma discussão tinha começado. Os policiais estavam mais nervosos. Falavam em invadir o Panteão. Falavam que alguém pretendia matar um cardeal. Não entendia o que estava acontecendo. Essa cena não era para ter acontecido durante o Conclave? Por que Robert Langdon estava caçando os Illuminati durante o velório do Papa?

Fomos embora dali, eu e meu marido, antes que sobrasse para nós. Nem consegui visitar o Panteão.

A única certeza que eu tive sobre aquele encontro foi quando lançaram O Código Da Vinci no cinema, um ano depois: o Robert Langdon que eu conheci na praça do Panteão era completamente diferente do Tom Hanks.

Nota de Flavia Andrade: Nossa colega "Beta Langdon" se baseou numa cena do livro
ANJOS E DEMÔNIOS, de Dan Brown, para descrever essa hipotética conversa com Robert Langdon.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Ah, esses thrillers e seus personagens maravilhosos...

O TEXTOS & THRILLERS é um blog que cumpre o que promete. Prometemos, no post da semana passada, divulgar, hoje, a relação dos personagens memoráveis de thrillers que serão tema de textos publicados aqui nas próximas semanas e, agora, estamos cumprindo.

Eis a lista completa, com os personagens, as datas de publicação (sempre às segundas-feiras) e os autores das crônicas, selecionados entre os honoráveis membros do Ts&Ts:

17/11 - ROBERT LANGDON, por Beta Langdon (de Roma)
24/11 - VITO CORLEONE, por Paty Faria (de Nova York)
01/12 - MARIE-CÉCILE DE l´ORADORE, por W@L (de Chartres)
08/12 - EVELYN WAKIM, por Martina Memory (de Beirute)
15/12 - ALEC LEAMAS, por Eça de Assis (de Berlim)


A partir do dia 15 de dezembro o blog entrará em recesso de fim de ano, retornando em 2009, com novos comentários sobre mais thrillers.

Saudações da Flavia Andrade e de toda a comunidade do Ts&Ts

segunda-feira, novembro 03, 2008

Thrillers de escritores brasileiros


Estimulados por um e-mail supersimpático enviado pela querida Bia Nunes de Sousa, proprietária dos blogs amigos Criminália e No Casco da Tartaruga e também apreciadora de thrillers e livros de mistério e policiais, resolvemos publicar uma listinha de thrillers escritos por autores brasileiros e que foram lidos pelos Ts&Ts.

Imaginamos que existam outros, mas essa lista só cita os livros que nós já lemos aqui no grupo. São poucos, é verdade. Acontece que os brasileiros não escrevem muitos thrillers e, por isso, os estrangeiros acabam tendo bem mais destaque.
Os títulos estão em ordem alfabética:

120 HORAS - Luis Eduardo Matta
AURORA: OS ANJOS DO APOCALIPSE - Fritz Utzeri
CONEXÃO BEIRUTE-TEERÃ - Luis Eduardo Matta
HONRA OU VENDETTA - Silvio Lancellotti
IRA IMPLACÁVEL: INDÍCIOS DE UMA CONSPIRAÇÃO - Luis Eduardo Matta
LEMNISCATA: O ENIGMA DO RIO - Pedro Drummond
MORTE NO COLÉGIO - Luis Eduardo Matta
O CÓDIGO ALEIJADINHO - Leandro Müller
O CONCEITO ZERO - A. J. Barros
O MISTÉRIO DA 13ª LETRA - Andre Esteves
OS MERCADORES DA NOITE - Ivan Sant´Anna
RAPINA - Ivan Sant´Anna


A partir dessa semana faremos uma pausa nas apresentações e comentários dos livros (foram vinte desde a inauguração do blog, em junho). Na segunda-feira que vem vamos divulgar a lista dos personagens memoráveis de thrillers que serão tema de crônicas escritas por membros do grupo nesta reta final de 2008.

Saudações da Flavia e de toda a comunidade do Ts&Ts

segunda-feira, outubro 27, 2008

NÃO CONTE A NINGUÉM, de Harlan Coben

Em NÃO CONTE A NINGUÉM, Harlan Coben faz o leitor andar em uma corda bamba, onde um passo em falso ou uma palavra pode colocar tudo a perder.

David Beck e sua esposa Elizabeth comemoram o aniversário de seu primeiro beijo no tranqüilo lago Charmaine quando uma tragédia interrompe o clima de romance: Elizabeth é brutalmente assassinada. O caso acaba sendo resolvido e o assassino, condenado. No entanto, David não consegue superar a morte de Elizabeth. Depois de oito anos, ainda se lembra de todos os detalhes: o lago brilhante, o luar pálido, os gritos assustadores; a última noite em que a viu viva.

Mas é no dia do aniversário de morte de Elizabeth que a história realmente começa. Uma estranha mensagem aparece no computador de David, uma frase que somente ele e a esposa conhecem. De repente ele depara com o que parecia impossível - em algum lugar, de alguma maneira, Elizabeth está viva. Ele é advertido para que não conte a ninguém e envolve-se em um sombrio e mortal mistério, sem saber que já está sendo seguido por alguém que o tentará deter antes que descubra toda a verdade.

Livro: NÃO CONTE A NINGUÉM
Autor: HARLAN COBEN
Editora: ARX
2ª Edição (2006)
Páginas: 320
ISBN: 9788575812297


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre NÃO CONTE A NINGUÉM:

Martina Memory: Embora o final seja meio mirabolante e forçado (não me convenceu muito), o livro vale bastante a leitura. É muito bom, prende a atenção e deixa o leitor com a ansiedade e mil por hora em alguns momentos. Harlan Coben criou um thriller de mistério, sem perder o fio da meada (ele só se perde um pouquinho no final). Os personagens, tirando o Beck não são aprofundados, mas isso não é ruim, porque senão poderia prejudicar o ritmo da narrativa. E, além de tudo, a capa da segunda edição é linda.

Augusta Tietê: Um thriller fenomenal. Mesmo! Tudo na medida certa: sentimentos, mistério, suspense, ação, violência... Beck é emotivo sem ser piegas. O personagem Tyrese é muito bem construído, sem clichês, sem juízo de valor, sem discursos politicamente corretos, o autor não fazendo do personagem porta-voz de chavões sobre a marginalidade. Os fatos são narrados e os leitores concluem o que quiserem. Se fosse no Brasil, com certeza o escritor se sentiria na obrigação de cair na velha cantilena sociológica sobre cidade partida, favela X asfalto, essas coisas... Em Não conte a ninguém a gente percebe que nenhuma cena é desnecessária. Cada movimento, cada descrição tem uma função na trama, que é competente e bem realizada. Para mim, Harlan Coben é, hoje, um dos melhores autores de thrillers.

Paty Faria: Virei fã de Harlan Coben depois de ler esse livro maravilhoso. De uma idéia aparentemente simples (marido apaixonado que perde a mulher de forma misteriosa e trágica oito anos atrás) o escritor criou uma trama complexa e que não dá pra largar. O protagonista, o pediatra David Beck, com sua saudade da mulher, sua vida mecânica e a forma objetiva de enfrentar a mudança radical e repentina na sua vida, foi muito bem desenvolvido. Achei que o vilão Griffin Scope poderia ter aparecido mais, ser melhor explorado. Se tivesse sido, ele seria sério candidato a virar um dos grandes vilões dos thrillers contemporâneos. Para mim, essa foi a principal falha do livro. Assim como os capítulos finais, fraquinhos demais para explicar uma trama tão boa.

Eça de Assis: É interessante notar que Harlan Coben conseguiu em Não conte a ninguém alternar, com sucesso, capítulos na primeira e na terceira pessoas, coisa que muitos autores se enrolam feio. As cenas de David Beck são sempre narradas por ele, na primeira pessoa, sendo que nas que ele não tem voz, a narrativa é na terceira pessoa. Beck é um grande protagonista, por sinal. Assim como Tyrese é a grande revelação. Seu papel cresce no decorrer do livro e a ambigüidade extrema da sua personalidade o fazem uma das estrelas da trama. Griffin Scope, o antagonista, também é bem construído, mas, infelizmente, aparece muito pouco. Essas aparições, no entanto, são marcantes. No mais, Não conte a ninguém é um thriller de muita ação e com um clima de mistério sufocante, que deixa qualquer adorador de livros de suspense em estado de êxtase e com o coração querendo sair pela boca.

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segunda-feira, outubro 20, 2008

O ENIGMA VIVALDI, de Peter Harris

Neste romance de Peter Harris, em que ficção e realidade se misturam, o leitor irá desembarcar na Veneza do século XXI para acompanhar a incessante busca pelo maior enigma de Vivaldi, guardado durante dois séculos e meio por ameaçar os alicerces do Cristianismo.

Admirador do prete rosso – padre vermelho –, nome pelo qual o compositor veneziano Antonio Vivaldi era conhecido por causa da cor dos cabelos, o jovem espanhol Lucio Torres decide ir a Veneza para participar de uma jornada musical sobre o músico e, assim, conhecer um pouco mais de sua vida e obra. Ao se deparar com a total falta de organização do evento, resolve pesquisar sobre o ídolo e curtir Veneza por conta própria. A encantadora Maria Del Sarto, filha da dona da hospedaria onde se encontra, acaba se tornando sua guia turística e grande paixão.

Ao folhear um livro de contas de 1741 (ano em que Vivaldi morreu) do arquivo do Ospedale della Pietà, onde o grande maestro havia atuado como professor, Lucio se surpreende com uma partitura sem nome e sem título. Quem compusera aquela música havia utilizado a quarta trítono, uma combinação de notas que produzia um som horrível e era considerada pela Igreja a música do diabo. Convencidos de que a partitura é de Vivaldi e de que nela está o grande segredo que o músico, pouco antes de morrer, enviara de Viena a um colega da Fraternitas Charitaris – sociedade secreta cuja missão era exercer uma espécie de controle sobre determinados saberes a fim de evitar sua divulgação –, o casal decide ir até o fim nas suas buscas para desvendar que segredo era esse que Vivaldi descobrira e que não queria que chegasse ao domínio público.

Livro: O ENIGMA VIVALDI
Autor: PETER HARRIS
Editora: Relume Dumará
1ª Edição (2005)
Páginas: 336
ISBN: 9788573164282


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre O ENIGMA VIVALDI:

Léo Bloom: Sem graça. Pretensioso. Idiota. Totalmente trash. Esses são os melhores eufemismos que eu encontrei para avaliar esse thriller, que foi um dos piores que li desde que o obstetra me tirou da barriga da minha mãe. Qualquer livro ordinário de auto-ajuda é melhor do que O enigma Vivaldi. Não dá pra acreditar que esse lixo tenha sido publicado e ainda por cima traduzido. Parecia uma versão impressa do Ataque dos tomates assassinos.

Mrs. "M": Não vou nem dizer que Vivaldi “deve estar se revirando no túmulo” por ter sido rebaixado a tema desse livro, porque O enigma Vivaldi é tão ruim e ridículo, mas tão ruim e ridículo, que nem dá para levar o fato a sério. Fui mais uma vítima do engodo pós-Código Da Vinci, quando um monte de escrevinhadores resolveu aproveitar o filão para faturar uma prata e encheu as livrarias com livros desprezíveis. Esse Peter Harris (que apesar do nome, é espanhol) definitivamente não sabe desenvolver uma trama que preste. Devia se mudar para Veneza e abrir uma agência de turismo para músicos espanhóis.

Beta Langdon: Mais surpreendente do que o tal de Peter Harris escrever essa droga de livro (afinal, tem tanta gente escrevendo porcaria por aí), foi um editor ter se animado a publicá-lo e outros terem se animado a traduzi-lo e publicá-lo em outros países. Só um editor sem visão pode apostar o nome da sua empresa numa obra assim. Na orelha da edição brasileira tem uma parte que diz: “Nessa fascinante novela de Peter Harris...”. Fascinante novela? Faz-me rir. A Relume Dumará tinha era que ser processada por propaganda enganosa. Quero meu dinheiro de volta!!!

H. Ester: O enigma Vivaldi é um thriller muito chato, previsível e sem emoção nenhuma. Os dois protagonistas (o espanhol Lucio e a italiana Maria) são dois pamonhas. Os vilões, agrupados em torno do dottore Stefano Michelotto são risíveis e totalmente inconvincentes. O livro não tem clímax, o final é boboca, a trama não faz sentido, Peter Harris não é um escritor de thrillers. As únicas cenas razoáveis são as transcorridas no passado, especialmente quando o doge aparece. Mesmo assim, elas não são boas o suficiente para salvar a história de um naufrágio vergonhoso.

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domingo, outubro 12, 2008

ROSAS PARA LEMBRAR, de Phillip Margolin

Complexo e brilhantemente executado, ROSAS PARA LEMBRAR é um livro que, uma vez começado, seduz o leitor até o fim.

As esposas de proeminentes homens de negócios desaparecem sem deixar vestígios, a não ser uma rosa negra acompanhada de uma simples mensagem: "desaparecida, mas não esquecida". Dez anos antes, em Hunter's Point, Nova York, houve uma série idêntica de desaparecimentos - mas o assassino foi pego, o caso foi encerrado e a força-tarefa especial designada para prender o "assassino das rosas" foi desfeita.

Nancy Gordon, detetive da Delegacia de Homicídios do Departamento de Hunter's Point e membro original da força-tarefa, não consegue dormir uma noite inteira desde que os desaparecimentos começaram, perseguida por pesadelos com um assassino sádico que, ela jura, ainda está à solta. Determinada, procura Alan Page, promotor público de Portland, para lhe contar uma história que ele logo esquecerá.

Betsy Tannenbaum, também moradora de Portland e nacionalmente reconhecida como advogada de defesa feminista, é contratada pelo multimilionário Martin Darius, sem qualquer razão aparente. Do outro lado do país, em Washington D.C., o presidente dos Estados Unidos acaba de escolher o senador Raymond Colby para o cargo de presidente do Supremo Tribunal. Em uma reunião particular, Colby garante ao presidente que não está envolvido com nenhuma espécie de crime.

Livro: ROSAS PARA LEMBRAR
Autor: PHILLIP MARGOLIN
Editora: Rocco
1ª Edição (1995)
Páginas: 340
ISBN: 9788532505040


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre ROSAS PARA LEMBRAR:

W@L: Simplesmente brilhante. Um dos melhores thrillers jurídicos que li em toda a minha vida. Phillip Margolin estava iluminado quando teve a idéia para este Rosas para lembrar. A composição do personagem Martin Darius foi primorosa. A descrição de suas atitudes, sua ambivalência, sua frieza transbordante e magnética, tudo faz dele a grande estrela desse romance, mesmo com toda a sua sede de maldade e seu calculismo.

Macabéio: Um livro mediano e bastante confuso. Foi o que achei de Rosas para lembrar. O núcleo do senador Colby, em Washington era totalmente dispensável. Não faria a menor falta excluí-lo do livro e a trama ainda ganharia em agilidade. Por outro lado, Nancy Gordon podia ter sido mais bem explorada. Ela aparece no livro menos do que se espera. Betsy Tannenbaum está bem construída, mas a arapuca em que ela se mete faz com que o leitor se decepcione com a sua reação tímida aos acontecimentos e ela acaba parecendo menos inteligente e sagaz do que talvez fosse a intenção de Margolin. Nota 6.

Agente 1986: Rosas para lembrar é um thriller diferente, estruturado de forma pouco usual e isso talvez assuste alguns leitores. Há um excesso de núcleos. Durante mais da metade do livro os trechos passados em Washington parecem totalmente fora de sintonia com o restante da trama. As cenas transcorridas no passado acontecem de repente e podem confundir muita gente. Ainda assim, é um livro mais positivo do que negativo. A presença de Martin Darius e as cenas antológicas que ele protagoniza já valem a leitura.

London Hilton: Phillip Margolin provou neste livro ser o mestre que é. Ele enrola o leitor direitinho numa trama aparentemente banal, mas que se revela complexa e onde nada é o que parece. O final é meio forçado, mas eu gostei da reação da vítima que jura vingança ao monstro que aterrorizou Hunter's Point. Foi imprevisível o desenrolar da trama. Também o conflito familiar de Betsy Tannenbaum, a inveja que o ex-marido tem do seu sucesso profissional, a ponto de ter pedido o divórcio, tudo isso contribui para dar ao romance uma atmosfera de realismo, já que reflete o que acontece em muitas famílias.

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segunda-feira, outubro 06, 2008

O PODEROSO CHEFÃO, de Mario Puzo

O submundo da Máfia e o talento literário de Mario Puzo ganharam notoriedade com a publicação de O PODEROSO CHEFÃO. Nele, Puzo nos brinda com um dos personagens mais célebres da literatura: o mafioso Don Corleone.

MÁFIA 1900: uma pequena irmandade secreta na Sicília. MÁFIA 1950: uma sociedade em famílias, com o controle total do crime organizado nos Estados Unidos. Entre o começo e o fim, um longo rastro de sangue. Um homem participou de tudo, viu crescer esse império de crime e violência, tornando-se seu capo dei capi, o mandante da morte. Seu nome: Don Vito Corleone.

Publicado em 1969, O PODEROSO CHEFÃO é a mais perfeita reconstituição da Cosa Nostra, a Máfia americana, e do mundo alucinante criado por cinco famílias de mafiosi em guerra em Nova York, sendo a mais influente a chefiada por Don Vito Corleone. Apesar de implacável, Don Vito é, essencialmente, um homem justo. Padrinho benevolente, ele nada recusa aos seus afilhados: conselhos, dinheiro, vingança e até mesmo a morte de alguém. Em troca, o poderoso chefão pede apenas o respeito e a amizade de seus protegidos.

Mas ninguém pode vencer as trapaças da idade. Quando seus inimigos atacarem juntos e tudo o que a família Corleone significa estiver por um fio, o velho Corleone terá de escolher, entre seus filhos, um sucessor à altura para manter o nome e o poder da família num mundo cada vez mais violento de intrigas, traições e decisões cruéis.

Livro: O PODEROSO CHEFÃO
Autor: MARIO PUZO
Editora: Edições BestBolso (Grupo Record)
1ª Edição (2007)
Páginas: 658
ISBN: 9788577990191


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre O PODEROSO CHEFÃO:

Gisele Letras: O poderoso chefão, o livro, é um dos maiores clássicos da ficção popular e Don Corleone um dos personagens mais maravilhosos que eu já vi numa obra literária. A complexidade desse personagem, por um lado bondoso e generoso e por outro um líder mafioso prepotente e implacável, é emocionante. Mario Puzo estava inspiradíssimo quando criou Don Corleone. Só por causa dele, Puzo já ganhou seu lugar na posteridade.

Martina Memory: Confesso que o que mais me fascina na série de O poderoso chefão, é a ênfase que Mario Puzo dá na instituição "família", que para mim é a coisa mais sagrada que existe. Apesar de ser um gângster, um assassino, que corrompe as pessoas com a sua generosidade e o seu paternalismo, Don Corleone ama a sua família, ama seus filhos, promove uma festança de casamento para a filha... Que mulher não queria ter um pai como Vito Corleone nesse momento da vida? A adaptação para o cinema também é o máximo. A escolha de Marlon Brando para o papel de Vito e de Al Pacino para o de Michael não poderia ser mais acertada. Puzo e Francis Ford Coppola são a prova de que o sangue italiano fez bem aos Estados Unidos.

Paty Faria: Já perdi a conta das vezes que reli esse livro e que revi a trilogia no vídeo. Devo ter sido uma das primeiras pessoas a comprar a caixa de DVDs com os três filmes quando eles saíram. Custou uma nota, mas valeu a peníssima. A trama desse primeiro livro é de comover o coração de qualquer um. A ligação que Vito Corleone tem com seus filhos e seus afilhados é muito linda. É uma relação de lealdade que não se vê muito hoje em dia, nesse mundo meio cínico onde a gente vive. Ainda bem que existe a literatura para preencher um pouco a vida da gente com coisas boas. Se não fosse a arte, a humanidade já teria se destruído.

Augusta Tietê: Noves fora a trama, que é fantástica e o protagonista, que é um espetáculo, o que eu gosto mesmo em O poderoso chefão é que o livro mostra como funciona o mundo da corrupção e do crime e ajuda a explicar muito do que acontece aqui no Brasil, com a polícia e a política. Don Corleone poderia ser comparado a um desses políticos coronelistas, que apadrinham aliados e lhes cobram lealdade. No final, estão todos com o rabo preso com o "padrinho" e quando estoura um escândalo político e um desses "poderosões" é acusado, ele leva um bando de gente pra lama com ele e depois acaba impune porque os que o absolveram também têm o rabo preso, nem que seja com outros "padrinhos". E a polícia de Nova York que leva dinheiro dos bookmakers... Bem, isso nem precisa comentar. O mundo do crime só sobrevive porque a polícia faz parte dele.

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Nota de Flavia Andrade: Quando falamos em Don Vito Corleone, logo vem a imagem de Marlon Brando e sua interpretação antológica do líder mafioso criado por Mario Puzo. A versão cinematográfica da trilogia de O poderoso chefão, dirigida por Francis Ford Coppola é uma das obras-primas do cinema americano de todos os tempos e consagrou mundialmente Don Corleone como um dos personagens mais apaixonantes da ficção moderna, por sua complexidade e suas contradições.

Mais de três décadas após ganharem o Oscar de Melhor Filme, os clássicos O poderoso chefão Parte I e O poderoso chefão: Parte II já podem ser novamente apreciados pelo público como foram originalmente idealizados, graças a uma meticulosa restauração da Paramount Pictures, supervisionada pelo próprio Francis Ford Coppola. Em 21 de julho de 2008, os dois filmes totalmente restaurados estrearam em DVD, junto com uma nova remasterização de O poderoso chefão: Parte III, na coleção O poderoso chefão: the Coppola restoration. As informações são da Livraria Saraiva, onde a trilogia está à venda. Para adquiri-la, é só clicar AQUI

segunda-feira, setembro 29, 2008

O LADRÃO DE ARTE, de Noah Charney

Noah Charney, uma das maiores autoridades do mundo em crimes contra a arte, constrói em O LADRÃO DE ARTE uma trama na qual três roubos são investigados simultaneamente em três cidades. Mas esses fatos isolados têm mais em comum do que se pode imaginar.

Em Roma, a polícia destaca o investigador de arte Gabriel Coffin para localizar uma obra de Caravaggio roubada de uma igreja. Em Paris, a curadora Geneviève Delacloche é surpreendida com o desaparecimento de uma famosa obra do russo Kasimir Malevitch e tem a colaboração do inspetor de polícia Jean-Jacques Bizot, que segue uma trilha de pistas bizarras que leva a uma desnorteante conspiração. Em Londres, Harry Wickedenden, da Scotland Yard, supervisiona as estratégias da equipe da National Gallery of Modern Art para reaver o resgate pago por uma pintura roubada. A recuperação do quadro o leva a se aprofundar em um mistério ainda maior.

Uma seqüência desconcertante de falsificações, pinturas dissimuladas com engenhosidade e traições desdobra-se à medida que a história avança em salas de leilões, museus, galerias européias exlusivas - e lugares secretos onde pinturas de valor incalculável tornam-se disponíveis a colecionadores que não se deterão diante de nada para satisfazer seus desejos.

Livro: O LADRÃO DE ARTE
Autor: NOAH CHARNEY
Editora: Intrínseca
1ª Edição (2008)
Páginas: 320
ISBN: 9788598078311


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre O LADRÃO DE ARTE:

Beta Langdon: Achei esse livro chato (muito chato!!!) e pedante (muito pedante!!!). A gente percebe de cara que é o primeiro livro de um autor pretensioso e cru. Noah Charney pode ser "a maior autoridade do mundo em crimes contra a arte", como afima o marketing dele, mas não é um bom escritor de romances e muito menos de thrillers.

H. Ester: Foi duro chegar ao final desse livro. Totalmente amadorístico e sem tempero. Os personagens são mal construídos e o leitor fica sem ter por quem torcer. Há algumas tentativas, todas fracassadas, de humor, que ainda pioram a situação. A trama, com excesso de núcleos, é confusa e em alguns momentos, fica a impressão de que o autor estava mais preocupado em falar dos bastidores do mundo da arte, de como os ladrões e falsários atuam e, principalmente, mostrar o seu imenso conhecimento sobre o assunto, do que em criar uma história envolvente.

Léo Bloom: A trama de O ladrão de arte começa muito bem, em Roma, mas vai perdendo fôlego, até que, no meio, já não tem a menor graça. Fizeram muita espuma para pouco sabão na época do lançamento, mas o resultado foi decepcionante. Mas, pelo menos, o livro serve para esclarecer alguns detalhes sobre o mundo dos ladrões de arte. Embora uma obra de não-ficção funcionasse bem melhor nesse caso.

Bentinha Escobar: Um livro bem escrito, interessante, revelador, mas que não é nem um centésimo do que a imprensa andou dizendo por aí. Me senti enganada pela mídia. A dupla de detetives franceses é ridícula, nenhum personagem tem um pingo de carisma e o Gabriel Coffin, que o autor pretendia que fosse uma das estrelas da história, é completamente patético. Mas as duas coisas mais irritantes nesse livro são os diálogos em língua estrangeira (quem não fala francês ou italiano se ferra) e os monólogos intermináveis de alguns personagens quando conversam ao telefone, sem que se ouça (leia) a voz do interlocutor. A intenção de Noah Charney talvez tenha sido a de inovar, mas tudo o que ele conseguiu foi piorar um livro já suficientemente decepcionante. Foi pena, porque o tema prometia e nas mãos de um Ken Follett da vida daria uma grande história.

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Nota de Flavia Andrade: O ladrão de arte foi lançado também em Portugal, pela Civilização Editora, que, num bem bolado lance de marketing, criou um hotsite muito bonito para o livro. Como a Editora Intrínseca não fez o mesmo por aqui e o site é em português, os leitores brasileiros também podem usufruir dele e usá-lo para ter uma idéia do livro antes de comprá-lo. É só clicar AQUI

segunda-feira, setembro 22, 2008

UM ASSASSINO ENTRE NÓS, de Ruth Rendell

Em um dos seus mais célebres romances, Ruth Rendell subverte todas as regras do gênero policial, prende o leitor do início ao fim e mostra por que é um dos grandes nomes da literatura de suspense e mistério da atualidade.

No interior da Inglaterra, na cidadezinha de Greeving, vive a respeitável e socialmente privilegiada família Coverdale: o casal George e Jacqueline, a estudante universitária Melinda e o adolescente Giles. Nada sugere que algo possa vir a macular sua existência, harmônica e feliz. Porém, George é tão apaixonado pela esposa que não suporta vê-la fazer sozinha todo o trabalho de casa. Assim, Eunice Parchman – uma total estranha – entra na vida dos Coverdales como empregada doméstica. Ela é soturna, esquisista, por vezes até mesmo indelicada. Mas ningém diria que ela seria capaz de fazer o que fez.

Com mais de 60 títulos publicados, milhões de livros vendidos em todo o mundo e dezenas de adaptações realizadas para o cinema e a televisão, Ruth Rendell é considerada a sucessora de Agatha Christie como Rainha do Crime. Sua obra ficcional é dividida em três tipos principais: histórias policiais com Wexford, histórias de um suspense sombrio e os livros que começou a publicar na década de 1980 sob o pseudônimo de Barbara Vine.

Livro: UM ASSASSINO ENTRE NÓS
Autor: RUTH RENDELL
Editora: L&PM Pocket
1ª Edição (2007)
Páginas: 199
ISBN: 9788525416445


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre UM ASSASSINO ENTRE NÓS:

London Hilton: Esse é um livro assustador. Comecei a leitura num domingo depois do almoço e só consegui largar de madrugada. Esqueci até o jantar. A frieza de Eunice Parchman e seu passado condenável são coisas assombrosas. Ruth Rendell estava superinspirada quando escreveu esse livro.

Agente 1986: Eu fico me perguntando de onde Ruth Rendell tira as idéias para esses livros, porque Um assassino entre nós é um suspense fenomenal. Até hoje não li nada parecido com ele. Pode ser até que exista, mas não li. A indiferença de Eunice em relação a tudo, menos à televisão, e sua maneira de agir meio ríspida, meio gélida, chegou a me dar nos nervos.

Mrs. "M": Uma família unida e feliz que recebe em sua casa uma empregada misteriosa e sombria que traz consigo a desgraça. Um enredo que poderia sair totalmente banal, se não fosse o talento de Ruth Rendell para fazer do livro uma grande história de suspense. Sempre gostei dessa escritora e foi uma experiência incrível ler Um assassino entre nós. Uma narrativa de suspense e tensão diferente.

W@L: Ficou até parecendo que Ruth Rendell estava em campanha para desencorajar as pessoas a contratar empregadas domésticas. Ela retrata com perfeição e sem exageros a realidade de um vilarejo no interior da Inglaterra e o contraste entre o mundo aristocrático dos Coverdales e a vidinha tediosa da região. Eunice Parchman, "a cara de pergaminho de cabelo de gato malhado" é uma personagem repugnante, mas às vezes a gente se vê torcendo por ela, pelo menos na primeira parte do livro, como nas cenas em que ela fica na maior saia-justa por ser analfabeta, fato que esconde de todos. Aliás, mais do que ser analfabeta, Eunice se sente ameaçada pelas palavras impressas e da forma como isso é apresentado no livro, a história fica ainda mais lúgubre.

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Nota de Flavia Andrade: Ruth Rendell, considerada a nova rainha do crime, herdeira da coroa e do cetro de Agatha Christie, é uma das mais brilhantes escritoras policiais da atualidade. Recebeu vários prêmios, e o título de Baronesa Rendell of Babergh. Assim como a Mary Higgins Clark, citada aqui há duas semanas, Rendell se dedica muito mais à literatura policial. Se o Textos & Thrillers fosse um blog mais focado nos policiais, ela seria uma das presenças mais assíduas, com certeza. Mas fica aqui a nossa homenagem a ela e à sua obra, cujo reconhecimento é justo e merecido. Para quem não conhece os livros de Ruth Rendell, Um assassino entre nós é uma ótima sugestão de primeira leitura. E quem quiser conhecer mais o trabalho dela, pode consultar a Wikipedia clicando AQUI

segunda-feira, setembro 15, 2008

CONTROLE TOTAL, de David Baldacci

Em CONTROLE TOTAL, nada é óbvio, nada é previsível. David Baldacci criou um livro perfeito para os fãs de um bom romance de suspense.

A jovem advogada Sidney Archer vivia uma vida de sonhos ao lado de seu marido, Jason, alto executivo de uma grande empresa líder mundial em tecnologia, e de sua filha. Até que um acidente aéreo envolvendo Jason lança Sydney num turbulento redemoinho, onde verdades e mentiras se misturam. Uma história cheia de manobras, traições, intrigas e segredos, que traz de volta o escritor David Baldacci, confirmando seu talento em doses crescentes de suspense.

Ao saber do acidente, Sidney descobre que o marido não estava no avião, que tinha em sua lista de passageiros o presidente do Tesouro americano — um dos homens mais importantes dos Estados Unidos. Jason possivelmente estaria vendendo segredos industriais para um competidor. O FBI entra na investigação e tenta descobrir se há ligações entre o espião e a sabotagem aérea. A partir deste momento, Sidney passa a ser vista como suspeita e começam as perseguições. A ação é rápida, cada cena leva a outra mais intrigante.

Livro: CONTROLE TOTAL
Autor: DAVID BALDACCI
Editora: Rocco
1ª Edição (1998)
Páginas: 560
ISBN: 9788532508621


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre CONTROLE TOTAL:

Macabéio: A cena do acidente de avião vista de dentro foi de tirar o fôlego. David Baldacci descreveu com minúcia e na medida certa o pânico dos passageiros e o caos que se instala dentro de uma aeronave durante uma queda. Só um escritor muito talentoso para fazer isso, já que ele não viveu a situação para reproduzi-la na ficção com tanta carga de veracidade. Só por essa cena, Baldacci ganhou meu respeito. Mas fiquei uns bons três anos com um frio no estômago na hora de voar. Sempre que o avião decolava, só pensava nesse livro.

Augusta Tietê: Adoro os primeiros thrillers do David Baldacci, principalmente este Controle total. Baldacci soube armar muito bem uma história envolvendo espionagem empresarial, conflitos familiares e muita tensão, tudo bem encaixado na realidade. Nada no livro soa inverossímil, começando pelo casal de protagonistas, Sidney (é uma mulher, viu, gente?) e Jason. Baldacci faz com que a gente sofra junto com ela quando o marido some e ficamos à mercê da sua sorte durante todo o resto do livro. Ela é a grande heroína.

Eça de Assis: Jason Archer é um homem de moral dúbia, mas isso não lhe tira o brilho como um dos protagonistas de Controle total. Até acredito que lhe dê um aspecto ainda mais humano. Ele é imperfeito como qualquer um de nós. Mas o personagem que me agradou mesmo foi o agente Sawyer, com sua ética, seus conflitos internos e sua firmeza. O bom neste livro é que nenhum personagem é totalmente esquemático e isso ajuda muito no bom andamento da trama.

Paty Faria: Um thriller de primeiríssima. O autor mostra com uma intimidade incrível como funciona o mundo das empresas de alta tecnologia e do agressivo mundo corporativo que as cerca. O livro foi escrito no fim dos anos 90 e a tecnologia mudou demais de lá para cá, mas ainda hoje um leigo que não trabalhe no CERN ou no Vale do Silício vai se impressionar com os detalhes de informática narrados por David Baldacci. Mas a melhor cena do livro é a fuga simples, porém espetacular de Jason Archer logo no começo, no aeroporto de Washington. E a narração do desatre aéreo é também de arrepiar, embora não seja lá muito agradável de ler, ainda mais para quem viaja muito de avião em tempos de caos aéreo.

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segunda-feira, setembro 08, 2008

DANÇANDO NO ESCURO, de Mary Jane Clark

A bestseller Mary Jane Clark surpreende em seu novíssimo e assustador romance sobre uma cidade onde garotas estão estranhamente desaparecendo. Uma pacata comunidade litorânea está aterrorizada, e uma jornalista precisa descobrir a verdade para proteger sua família.

Tentando aliar trabalho e diversão, a correspondente da KEY News Diane Mayfield levou os filhos e a irmã à cidade de Ocean Grove, na costa de Nova Jersey, para investigar uma história sobre "garotas que inventam mentiras" para a nova temporada do Hourglass, o noticiário com o maior ibope da televisão. Diane consegue uma entrevista exclusiva com uma jovem problemática, cuja história sobre ter sido seqüestrada e mantida em cativeiro durante três assustadores dias não convencera as autoridades. Pouco depois de Diane ter terminado de gravar a matéria, uma segunda garota desaparece.

A pequena comunidade, já sofrendo com uma terrível onda de calor, é tomada pelo medo e pelo terror. Ninguém sabe quem poderá ser a próxima. Tendo apenas a primeira vítima como testemunha, Diane e a polícia recorrem a ela para conseguir pistas. Mas pode ser tarde demais para salvar Diane e seus entes queridos do perigo mortal que assombra Ocean Grove. Repleto de reviravoltas e muito perigo, DANÇANDO NO ESCURO é uma fascinante história de suspense que tem o litoral como cenário.

Livro: DANÇANDO NO ESCURO
Autor: MARY JANE CLARK
Editora: Bertrand Brasil
1ª Edição (2007)
Páginas: 308
ISBN: 9788528612714


Comentários de alguns dos Ts&Ts sobre DANÇANDO NO ESCURO:

Bentinha Escobar: Uma das coisas que eu mais gosto nos romances de Mary Jane Clark é a agilidade. Ela consegue dizer muito em poucas linhas, tem uma capacidade de concisão impressionante. O suspense em Dançando no escuro é forte, mas não agressivo e chega um momento em que o leitor pensa que todo mundo na história é inocente, embora ele saiba que tem um criminoso. Mary Jane criou uma literatura com luz própria, diferente da de Mary Higgins e isso é um mérito a mais para ela.

H. Ester: O livro tem uma atmosfera incômoda, aumentada ainda mais pelo calor sufocante de Ocean Grove que a gente, em pleno inverno brasileiro, consegue sentir lendo o livro, por mais frio que esteja lá fora. Um dos grande enigmas da trama é saber por que um maníaco seqüestra meninas anoréxicas apenas para dançar com elas. No escuro. A obsessão das garotas jovens pela magreza é bem explorada, sem atrapalhar o ritmo do livro. E o cenário é muito bem reproduzido. Bravos à adorada Mary Jane Clark.

Beta Langdon: Adorei tudo neste livro. Mary Jane Clark nunca me decepciona. O cenário, os personagens, os bastidores da já familiar KEY News, a psicologia da trama, tudo faz com que a gente esqueça da vida e se concentre só no livro. O caso das garotas obsecadas pela magreza e mal assistidas por profissionais incompetentes é muito comum na vida real. Eu mesma conheci uns dois doutores Owen Messinger que só ajudaram a afundar mais seus pacientes. A única coisa que eu não entendi direito foi: por que as prisoneiras eram obrigadas a dançar no cativeiro? Por que elas não ficavam apenas presas? Acho que perdi a parte que explicava isso ou então a dança era apenas uma justificativa para dar uma dramaticidade maior aos seqüestros, sei lá...

Léo Bloom: Não é à toa que Mary Jane Clark está no cabeçalho desse blog. Ela é fantástica. Conseguiu criar uma protagonista, Diane Mayfield que, como a autora, trabalha numa emissora de TV, mas sem se colocar demais no lugar dela. Enquanto a trama de Dançando no escuro avança, Mary Jane aborda de forma leve várias questões: a relação de Diane com dois filhos adolescentes, a quem tem que sustentar depois que o marido foi preso. A relação terna e realista dela com o marido. A capacidade de perdoá-lo sem esquecer o que fez. O caso das garotas anoréxicas e com tendências de de automutilar. Lógico que o livro não podia ir mais fundo nesses temas porque iria atrapalhar o andamento da trama, que é um thriller e não um tratado sobre problemas sociais e familiares. Mas foi bom ler um thriller que falasse de questões sensíveis ao nosso dia-a-dia, ainda mais para quem tem filhos como eu e se preocupa com eles nesse mundo em que vivemos.

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Nota de Flavia Andrade: Muitos de nós, aqui no grupo, pensávamos que Mary Jane Clark fosse filha da escritora policial americana Mary Higgins Clark. Mas acabamos descobrindo que ela, na verdade, foi casada com um filho de Mary Higgins. Uma prova de que sogra e nora podem se dar muito melhor do que as pessoas pensam. Como Mary Higgins Clark é uma autora de perfil mais policial, seus livros não serão presença tão assídua neste blog como a gente gostaria, mas não custa dar uma olhadinha na obra dela, que é fantástica, acessando o próprio site da escritora na internet, clicando AQUI