segunda-feira, junho 08, 2009

Textos & Thrillers entrevista LUIS EDUARDO MATTA

Flavia Andrade


O mais jovem dos nossos entrevistados é também o mais veterano. Luis Eduardo Matta estreou na literatura em 1993, com o thriller CONEXÃO BEIRUTE-TEERAN. Tinha 18 anos na época e, hoje, aos 34, contabiliza seis livros publicados. A partir de 2007, com o lançamento de MORTE NO COLÉGIO, pela consagrada Coleção Vaga-Lume, da Editora Ática, passou a escrever, também, thrillers juvenis.

Durante cinco anos, Matta assinou uma coluna na revista Digestivo Cultural, onde publicou diversos ensaios em que discutiu a formação de leitores no Brasil e chamou a atenção para a escassez de uma literatura de entretenimento brasileira, que ele apelidou de LPB – Literatura Popular Brasileira. Seu thriller 120 HORAS é um dos preferidos dos membros do Textos & Thrillers, e uma das suas personagens, Evelyn Wakim, foi tema
de uma crônica aqui no blog, no final do ano passado, ao lado de personagens célebres de thrillers internacionais como Robert Langdon, Alec Leamas e Don Vito Corleone. (Entrevista concedida por e-mail, do Rio de Janeiro)

Textos & Thrillers – Por que a opção por escrever thrillers?

Luis Eduardo Matta – Desde criança tenho fascínio pela ficção de mistério e de suspense. Foram esses livros que me iniciaram no mundo da literatura. Como leitor, sempre fui bastante eclético, mas não consigo escrever um romance em que o mistério e o suspense não constituam elementos vitais no enredo. Alguns chamariam isso de limitação. Pode até ser verdade, mas eu prefiro chamar de paixão. Tenho paixão por escrever thrillers.

Ts&Ts – Como se deu o começo da sua carreira literária?

LEM – Comecei cedo, aos 17 anos. Eu estava assistindo à reprise de uma entrevista de Jorge Amado e Zélia Gattai no programa do Jô Soares, que tenho gravada até hoje, e a maneira como eles relataram as suas experiências na literatura me contagiou com tal intensidade, que decidi também escrever um livro e, se possível, dedicar minha vida à criação literária. Isso foi em janeiro de 1992. Esse meu primeiro livro, Conexão Beirute-Teeran, que é um thriller, foi publicado no ano seguinte, quando eu estava com 18 anos.

Ts&Ts – O thriller não possui tradição na literatura em língua portuguesa e só recentemente escritores brasileiros e portugueses passaram a se dedicar ao gênero. Na sua opinião, o thriller tem chances de se firmar concretamente dentro da literatura em português ou está condenado a ser eternamente visto como uma imitação da literatura anglo-saxã, onde ele é mais forte?

LEM – Tem muitas chances e isso parece que já está acontecendo. Acredito que não só o mundo lusófono, mas o mundo latino como um todo é capaz de contribuir substancialmente para alargar os horizontes do thriller e lhe dar novas possibilidades dramáticas. O problema é que existe um peso muito grande dessa influência anglo-saxã, que precisa ser diluída e retrabalhada no imaginário dos autores a fim de abrir caminho à criatividade e permitir que se crie um thriller mais desvinculado, com uma fisionomia nova. Não deixa de ser um tipo de experimentação.

Ts&Ts – Que elementos diferenciariam um thriller americano de um thriller brasileiro, por exemplo?

LEM – Essa é uma questão meio complexa. Quando escrevemos um livro, passamos para ele, ainda que não intencionalmente, nossa bagagem cultural, nossa experiência de vida, nossa visão da realidade e da sociedade, nossas paixões... Um autor brasileiro terá, necessariamente, uma formação diferente da de um norte-americano, a começar pelo idioma e pelo modo como cada qual interage com seus conterrâneos e com resto do mundo. Ao mesmo tempo, devemos considerar as diferenças individuais existentes entre os autores. Cada autor tem um itinerário existencial único e isso tende a se refletir no seu trabalho. Por isso não dá para fazer uma comparação genérica. É preciso avaliar livro a livro. Mesmo um escritor com uma longa carreira pode ter uma produção irregular, devido a mudanças de percepção operadas ao longo da vida, que deixarão marcas na sua obra.

Ts&Ts – Qual a sua opinião em relação à idéia de que o thriller seria uma literatura “menor”?

LEM – Eu sou da opinião de que as pessoas têm o direito de manifestar seus pontos de vista livremente. Existe, de fato, essa crença de que, não só o thriller, mas toda a literatura de entretenimento constitui um gênero menor. É uma crença um tanto subjetiva, como tudo relacionado à arte, mas devemos respeitá-la, ainda que não estejamos de acordo. Minha dica aos que escrevem thrillers é: não dêem muita importância a isso, inclusive porque é uma luta perdida. Escrevam pensando no seu trabalho e, quando muito, nos seus leitores. Evitem antever eventuais críticas negativas, porque isso asfixia o processo criativo e ainda pode levar a uma paranóia. Todo escritor recebe críticas e não conheço nenhum que seja unanimidade, mesmo entre os canônicos. Faz parte do jogo. Portanto, o melhor a fazer é deixar que falem o que quiserem. E agir como Nelson Rodrigues, que dizia: “se os fatos estão contra mim, pior para os fatos”.

Ts&Ts – Está trabalhando em algum livro novo neste momento? Tem algum lançamento em vista?

LEM – Estou trabalhando em dois livros simultaneamente. Além disso, tenho um thriller inédito pronto, chamado O véu, mas confesso que não estou com muita pressa em publicá-lo. Desde 2007 venho me dedicando mais à literatura juvenil, por se tratar de um ramo novo e fascinante na minha carreira e que tem demandado muito a minha atenção. Neste momento, por exemplo, estou lançando, pela Ática, meu terceiro thriller para o público jovem, O rubi do Planalto Central. Por conta disso, deixei temporariamente as narrativas adultas meio que em banho-maria. Quando eu sentir que minha literatura juvenil está mais consolidada, voltarei aos adultos e buscarei conciliar essas duas vertentes. Talvez aconteça ainda este ano, talvez no ano que vem. Vamos ver.

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Na próxima segunda-feira, o Textos & Thrillers entrevista
JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS